Soube hoje que o poeta França faleceu. Já sabia que ele estava em coma, mas não tive mais notícias; daí li ontem um email enviado pelo site de poesia pernambucana Interpoética.
Logo veio a lembrança dos recitais das quintas-feiras, que começavam por volta de meia-noite e entravam madrugada adentro, “Eu poeta errante”… Lembrança de um tempo bom nas Olindas… Lembrança do vinho, da poesia e de beijos, na casa de Veruska, atelier de Aloma, comitê de Luciana, casa de nem-sei-quem em Tabajara… (lembrei: foi na casa do cantor Ívano).
Recitais que começavam? Como assim, no pretérito? Espero que continuem, espero que possa ir lá e talvez gaguejar o texto de algum(a) poeta – afinal, faz um bom tempo que minha prosa só é feita de imagens.
Este blog nasce falando em despedida, mas é hora de caminhar e eis então um dos textos de França. Não teremos mais sua interpretação, aquela vibração da sua voz, mas temos este espaço para lembrar.
Um abraço, poeta!
Arde ávida a acidez
A agonia arranha, bale,
Bole, berra, bate brutamente.
Corre calado cúmplice cão
Cujos dentes dignos de devoção
Decerto devoram espada e esporas
Enquanto famintos, furiosos felinos
Grudam-lhe garras grossas.
Hoje hospedam Homeros, Horácios
Imponentes igrejas impotentes
Jesus, Judas, jogam, jantam juntos
Lêem loucos livros lúcidos lamas
Mas mestres místicos, maconha,
Metem medo. No ninho, nascem
Novas noivas néscias
Outras ostras ocultam pérolas, porém.
Pretos pedem pão. Povos põem panos quentes.
Quem quer querelas?
Rotulam rocks. Rejeitam reggaes.
Súbito, surgem sangrentas sarjetas
Transamazonicamente.
Transcontinentalmente.
Tão tristemente!
Unhas untam úberes universalmente.
Universidades? Vomito-as.
Vêm vindo vozes:
Xiiiiiii….
Xangô?
Xenófobos?
Zeza?
Zumbi?
Zarpemos?
Zeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeemmmmmmmmmmmmmm!!!!!!!!!!!!!!!
Leia mais poesias de França e outros autores pernambucanos no site Interpoética
França é com certeza um dos maiores nomes da poesia nacional. A posteridade confirmará
isso. Abraço, poeta rasta !!!!